segunda-feira, julho 31, 2006








(A autoria das ilustrações é pela seguinte ordem: Inês 10 anos, Oficina, Catarina 10 anos, Sofia 10 anos, Patrícia 11 anos - 2 fotos e Susana 9 anos - 2 fotos)


Olá!!! Desculpem (se for o caso) este pequeno interregno na elaboração do já nosso lápis voador. Voltei e mais, espero que o resultado deste tempito de espera vos agrade, desta vez não com criações do l.v. mas de pequenas e grandes amigas e artistas. Pois aí vai...deliciem-se!


( Este post é especialmente dedicado às, lindas, únicas e fantásticas artistas (a Catarina, a Inês, a Patrícia, a Sofia e também a Susana) que comigo partilharam a imaginação nesse lugar mágico que é o museu da quinta de Santiago em Matosinhos. Para elas beijos grandes, mesmo grandes e também com muito mas mesmo muito carinho.)

l.v.


O lápis que desenhava sonhos

Era uma vez um lápis que vivia na montra de uma papelaria. Octogonal e colorido, suspirava triste junto ao vidro, esquecido num canto.
Nesse dia, o menino passou, risonho e alegre. Parou. Que lindo lápis, mãe...!
O lápis sorria no bolso do menino a caminho de casa. Finalmente ia fazer alguém feliz. E assim foi. Dia após dia o menino desenhava deitado no chão. Casas, montanhas, céus, cavalos de crinas esvoaçantes, carinhas sorridentes. E o lápis ria, rebolando no tapete e mordendo afiado o papel. E olhava, irritado, a borracha que teimava em contrariá-lo.
Naquela noite, ficou esquecido no granito da varanda. Olhou o céu, cheio de estrelas e brilhos.
Que luz é aquela?? Estranho! Nunca a vi.
Era uma bola branca, quieta, parada. Não rolava como a bola do menino que tantas vezes o atirava para um canto.
Quem me dera voar! Ia lá cima e falava com ela.
Quem me dera voar!
Quem me dera voar!
Ficou tristonho, olhando. Ela continuava imóvel, sem um movimento. Só uma luz branca, suave e pálida.
Se eu voasse!
Repentinamente, sentiu o coração vibrar dentro da prisão de madeira. Assustado, tentou equilibrar-se. Impossível.
E, incontrolável, subiu em círculos rasgando no céu fios de luz, brilhantes e coloridos, como relâmpagos redondos. Corria e rodopiava, cada vez mais alto. Nunca se sentira assim, tão leve, tão solto, tão vivo, pintando a cores e estrelas um céu tão enorme.
Parou junto da bola de luz. E agora? Olá!...Olá! Não me ouves?
Girou à sua volta, confuso e intrigado. Se calhar não quer conversar. Se calhar é soturna e mal humorada. Voou para mais longe, ficando a olha-la de soslaio, como se não lhe interessasse. No entanto, permanecia curioso e com o coração batendo forte na sua prisão de madeira.
Reparou então que não tinha rosto. Como poderia vê-lo? Aproximou-se, a medo, deixando ténues pontos pelo caminho. Era tão bonita!...
Procurou uma abertura por onde conseguisse vislumbrar o que ocultava. Nada encontrou. E se lhe desenhasse uns olhos?!
Entusiasmado delineou-lhe dois olhos rasgados, enormes.
Olha para mim! Sou o lápis voador e só te quero cumprimentar. Voei até aqui à procura da tua luz.
Nada; os olhos estavam fechados como num profundo sono.
Que posso fazer para que olhes para mim?
Ah! Não podia responder, claro!
Os olhos não teriam vida sem o rosto completo! Já sei!
E voou, rodopiou alegre na sua esperteza. Suavemente, desenhou-lhe uma boca, um nariz, as maçãs do rosto. E agora? Falas comigo agora? Fala. Abre os olhos para mim.
Relutantemente, os olhos começaram a abri. Devagarinho, timidamente. Depois ficaram abertos, olhando, com uma expressão indecifrável o lápis que esvoaçava à sua frente. Mas não respondia, sempre imóvel na sua imensidão de luz.
Olá, sou o lápis voador, desenho tudo aquilo de que gosto. E tu? Quem és tu?
Os segundos de espera apertavam-lhe o coração no meio das lascas de madeira. Melhor ir embora.
Mas, quando já se preparava para partir, um sorriso, brilhante, doce e feliz espraiou-se no ar dando ainda mais luz `a noite.
Olá.
Olá.
Pairaram no ar silenciosos, olhado-se. Sem pressa nem perguntas.
Descobri hoje que conseguia voar. Vi-te e fiquei triste por não teres rosto. Como te chamas?
Sou a lua. Quase ninguém me vê!
Eu vi-te.
Porque sabes voar. Obrigada por saberes olhar para mim. È por isso que consigo sorrir para ti.
Ficaram conversando e rindo. O lápis voava como um pássaro sem asas, desenhando estradas por onde a lua deixava deslizar fios de luar, descendo até à terra. Os olhos sorrindo, abertos e imensos, enchiam o espaço.
Voltas?
Sim. Se me prometeres que não te esqueces de mim.
Não esqueço.
A manhã acordou preguiçosa, com pequenos raios de sol que tocaram o lápis, adormecido no granito da varanda. Acordou, esticando-se na prisão de madeira.
Brincou, saltou, desenhou casas, montanhas, o mundo.E à noite voltou a elevar-se no céu para desenhar o luar à volta da bola de luz, numa dança de cores e risos.
O conto "O lápis que desenhava sonhos" foi escrito em julho de 2006 e é da inteira inspiração da Né.